Opinião

Covid-19: Farmacêuticos e farmácias serão estratégicos na vacinação

Conselho Federal de Farmácia comemora o Dia Nacional do Farmacêutico mobilizado para que as farmácias sejam postos de vacinação

Em 20 de janeiro, quando se inicia a vacinação contra a Covid-19 no Brasil na maioria dos estados, o Conselho Federal de Farmácia (CFF) e os 230 mil profissionais da área estarão comemorando o Dia Nacional do Farmacêutico.  A data foi instituída para lembrar a importância do trabalho dessa categoria para a saúde, especialmente agora, que o país inicia a campanha de vacinação mais desafiadora da sua história. Além de reiterar a mensagem da campanha – “Farmacêuticos são essenciais. E merecem nosso reconhecimento”, que incentiva o agradecimento por parte da população – o conselho aproveita esse momento para reforçar, ao Ministério da Saúde, as sucessivas reivindicações para que os farmacêuticos e as farmácias sejam aliados do Sistema Único de Saúde (SUS) na imunização dos brasileiros.

Tem sido estratégico o papel dos farmacêuticos na pandemia, tanto que o Ministério da Saúde incluiu os farmacêuticos no grupo prioritário para receber a vacina na fase 1. Eles estão envolvidos na pesquisa de vacinas e de medicamentos; vem trabalhando dobrado na indústria e na logística para suprir os serviços de saúde; deram suporte ao funcionamento das 90 mil farmácias, mesmo durante o isolamento social, e realizaram mais de 1,4 milhão de testes de Covid-19 nesses estabelecimentos, além de garantir a realização de exames nos laboratórios de análises clínicas, de apoiar o atendimento nos hospitais e de assegurar a qualidade da assistência à saúde, na vigilância sanitária.  Sem contar a sua participação decisiva para a chegada da vacina ao Brasil.

Os farmacêuticos detêm como atribuição privativa a responsabilidade técnica pela produção desses medicamentos no país, integrando as equipes da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Instituto Butantan e tantos outros centros de pesquisa que atuaram nos estudos clínicos. Também se destacaram no processo de autorização no uso emergencial pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), concluído num tempo recorde de nove dias. E estarão lá, a postos, para avaliar, certificar e autorizar os próximos lotes seja de forma emergencial ou definitiva.  “Agora, podem e devem ser aliados também na vacinação”, comenta o presidente do CFF, Walter Jorge João.

Em 2014, por força da Lei nº 13.021, farmácias de qualquer natureza foram autorizadas a dispor de soros e vacinas para atendimento imediato à população. E as condições para que a vacinação seja realizada nesses estabelecimentos estão regulamentadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) desde dezembro de 2017, por meio da RDC nº 197. Importante lembrar que, antes mesmo da publicação da lei e da norma específicas, as farmácias já eram autorizadas a dispensar medicamentos que exigem condições especiais de conservação e realizar a aplicação de injetáveis.

Muitas farmácias já se adaptaram para a prestação de serviços de vacinação e dispõem, sim, de condições adequadas para o enfrentamento desta crise sanitária. Nas grandes redes, segundo a entidade que congrega os estabelecimentos desse segmento, são 4.573 unidades com salas de imunização e 6.860 farmacêuticos vacinadores, com capacidade de aplicar mais de 2 milhões de doses por semana, seguindo todos os critérios de segurança contra a Covid-19. O número pode ser ainda maior, considerando também as farmácias independentes, e que, em breve, mais farmacêuticos serão preparados para prestar esses serviços, por meio de curso que será oferecido pelo CFF, gratuitamente.

“Em um momento como o atual, em que todos os esforços precisam ser somados para a contenção dessa epidemia, vemos com preocupação a linha de raciocínio de alguns especialistas, que insistem em concentrar as vacinas em postos de saúde para, por exemplo, reduzir o esforço logístico”, pondera o presidente do CFF. “A Rede de Atenção Primária é, sim, um grande patrimônio da saúde pública no Brasil, mas não tem conseguido absorver a demanda durante as campanhas. Basta lembrar as enormes filas que se formaram durante a imunização contra a Influenza no ano passado, mesmo em cidades com rede de saúde mais estruturada”, observa.

Certamente contribuíram para a disseminação da Covid-19, a aglomeração de idosos e demais integrantes dos grupos prioritários nas portas das unidades de saúde, bem como as constantes idas e vindas aos postos de vacinação por causa dos episódios de desabastecimento, que obrigaram repetidos deslocamentos das pessoas. Esses fatos foram amplamente divulgados na imprensa e toda a ajuda para evitá-los somente pode ser considerada bem-vinda. “Distribuir as vacinas para que farmácias espalhadas pelo Brasil apliquem em quem estiver na ordem para tomá-las naquele momento pode ser feito e é uma iniciativa fantástica”, destaca Walter Jorge João.

A cooperação das farmácias com a saúde pública na vacinação contra a Covid-19 está ocorrendo nos Estados Unidos, Irlanda e Reino Unido, devendo ser iniciada também na Dinamarca. “Esses países já perceberam que o cuidado farmacêutico, prática ainda pouco conhecida no Brasil, é uma grande aliada para a efetividade no acompanhamento de doentes e na promoção da saúde, seja por meio das consultas em consultórios farmacêuticos, seja por meio da vacinação”, comenta o presidente do CFF. No Brasil, o profissional da saúde de nível superior legalmente respaldado a atuar dentro das farmácias, também conforme a Lei nº 13.021/2014, é o farmacêutico.

Influenza – Na última campanha contra a influenza, as farmácias foram postos de vacinação em diversos lugares do país, ajudando a evitar aglomerações. A adesão ocorreu nos estados de Minas Gerais e Rio Grande do Sul e nas cidades de Campo Grande (MS) e São Paulo (SP). Na capital gaúcha, Porto Alegre, um quinto praticamente das mais de 700 mil doses utilizadas foram aplicadas por farmacêuticos em farmácias privadas. Em Campo Grande, mais de 26 mil das 231 mil doses da vacina antigripe foram administradas em farmácias, o que correspondeu a 11,5% do total.

Campanha – A campanha do Dia Nacional do Farmacêutico que o CFF está divulgando desde o dia 11/01, é continuação de uma ação de marketing que começou por ocasião do Dia Internacional do Farmacêutico, 25 de setembro. A campanha busca estimular o reconhecimento aos 220 mil profissionais em atuação no país pela sua importante contribuição à saúde pública na pandemia de Covid-19. O lançamento ocorreu durante uma ação no programa Encontro, da Rede Globo, com entrevista do presidente da entidade, Walter Jorge João, à apresentadora Patrícia Poeta, que substituía Fátima Bernardes no programa. Para rever a entrevista, acesse o link a partir do tempo 58’28’’ – https://globoplay.globo.com/v/8886412/programa/

A campanha incluiu também a divulgação de reportagens no Portal G1, sobre o trabalho dos farmacêuticos no combate à Covid-19. Histórias de farmacêuticos que fizeram e estão fazendo a diferença na luta do país contra a doença estão disponíveis no site e podem ser lidas em https://glo.bo/3oKbOa0

História – A Farmácia está historicamente vinculada às vacinas. Mas um dos farmacêuticos brasileiros mais representativos nessa área é Rodolfo Marcos Teófilo. Graduado pela Faculdade de Medicina da Bahia em 1875 e radicado no estado do Ceará, ele enfrentou duas epidemias de varíola, que vitimaram milhares de pessoas em Fortaleza e cidades do interior cearense, no final do século XIX e início do século XX. Em 1862, Rodolfo Marcos Teófilo aprendeu as técnicas de produção da vacina e, em 1901, passou a imunizar a população, sem qualquer apoio do poder público. Contando apenas com ajuda da sua esposa e de um auxiliar, promoveu a vacinação em massa pelos bairros pobres de Fortaleza até 1903.

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