O destino do Escolástica Rosa
Deputada Rosana Valle
Na década de 1940, quando a família de minha mãe foi separada, após a morte prematura de minha avó, cada um de seus seis filhos teve um destino. Enquanto minha mãe foi acolhida pela madrinha de batismo; Agostinho, um de seus irmãos, acabou num orfanato para meninos pobres: o Instituto Dona Escolástica Rosa, em Santos-SP. Na década de 1980, já com filhos e netos, Agostinho contava com entusiasmo para a família e os amigos mais próximos sobre a época em que morou na entidade. Toda vez que o assunto de meu mandato envolve ações a respeito do prédio histórico do antigo instituto, a imagem de meu tio Agostinho me vem a cabeça e, como não poderia de ser, toca o meu coração e me chama à responsabilidade afetiva e efetiva.
Recentemente, a Irmandade da Santa Casa de Santos, proprietária do imóvel, me procurou com a proposta de transformar o prédio Escolástica Rosa num colégio da Polícia Militar (PM). Fechado desde 2019, a imponente estrutura se deteriora a cada dia. Está aí, para quem quiser ver.
Levamos, então, a proposta ao secretário de Estado da Segurança Pública, Guilherme Derrite (PL), e ao governador de São Paulo, Tarcísio Gomes de Freitas (Republicanos). Na audiência, o chefe do Executivo paulista adiantou que pretende criar duas escolas militares no estado de São Paulo. Então, pergunto: Por que não em Santos? E, por que não aproveitar a estrutura já existente, o do Escolástica?
Desde janeiro de 1908, quando foi inaugurado o Instituto Dona Escolástica Rosa, nome da mãe de João Octávio dos Santos, que doou o imóvel à Santa Casa de Misericórdia, gerações de santistas foram educadas ali. Mais de cem anos depois, porém, sem segurança, nem manutenção adequada, o prédio precisou ser fechado.
A iniciativa privada não se interessou, de lá para cá, pela recuperação do espaço; a Prefeitura de Santos muito menos; e a Santa Casa, que tem um hospital para administrar, não consegue bancar a reforma, estimada em mais de R$ 50 milhões.
Como santista e deputada federal em segundo mandato, me incomoda, e muito, essa situação. Tanto que, ainda na gestão de João Doria (2020/2024) no Palácio dos Bandeirantes, apresentei ao então governador um projeto que transformava o prédio num hotel-escola. A ideia, infelizmente, não avançou. Agora, existe a possibilidade do Escolástica abrigar uma escola da Polícia Militar (PM) – o que seria bom para Santos e para toda a Baixada Santista.
As escolas militares são instituições de ensino fundamental e médio, reconhecidas pela qualidade do ensino gratuito que oferecem. Importante lembrar: ninguém é obrigado a estudar numa escola militar, mas fato é que não faltam candidatos almejando uma vaga. E isso incomoda segmentos da sociedade que colocam a Ideologia acima de qualquer interesse da comunidade.
Sem apresentar nenhuma solução viável para a recuperação do imóvel do Escolástica Rosa, grupos agem de forma autoritária, ao passo em que patrocinam a desinformação. A verdade é que, como não gostam ou não aceitam a escola militar, não querem ela em lugar algum.
Tenho certeza que a postura desses radicais não reflete a opinião da maioria de pais, de mães e de alunos de nossa região. Reitero: uma escola militar seria um ganho e tanto para a Baixada Santista. Afinal, quanto mais oportunidades na Educação, melhor!
Se o Escolástica vai se tornar uma escola militar, ainda não sabemos. Caberá ao Governo do Estado de São Paulo e à Santa Casa de Santos decidirem. Uma coisa, no entanto, é certa: do jeito que está, o Escolástica não pode continuar. Não importa qual seja a decisão – lutar para recuperar o imóvel histórico, reconhecido pelos santistas, será sempre prioridade de meu mandato.
*Rosana Valle é deputada federal pelo PL-SP, em segundo mandato; presidente da Executiva Estadual do PL Mulher de São Paulo; jornalista há mais de 30 anos; e autora dos livros “Rota do Sol” 1 e 2.