Baixada Santista

Projeto em Santos/SP vira política pública ao criar ‘espaços offline’ de escuta e empoderamento para juventudes

Iniciativa do Instituto Elos promove oito meses de formação em comunidades periféricas, envolvendo adolescentes, famílias e rede intersetorial de proteção ao ECA

A popularização da expressão “adultização” após o vídeo do influenciador Felca escancarou o impacto da superexposição de crianças e adolescentes às redes sociais. O debate contribuiu para o avanço de leis sobre a presença de menores nas plataformas digitais. Mas como levar essa conversa para as periferias brasileiras e, mais do que apontar problemas, construir alternativas de comunidades saudáveis para juventudes em contextos vulneráveis?

É essa a proposta do Conexão Elos, projeto realizado pelo Instituto Elos em Santos/SP desde abril. A iniciativa cria espaços seguros de escuta e convivência fora das telas, nos quais adolescentes, famílias e profissionais da rede de proteção fortalecem vínculos, protagonismo e pertencimento.

Formação em comunidades periféricas

O Conexão Elos acontece em quatro territórios periféricos de Santos — Jardim São Manoel, Vila dos Criadores, Paquetá e Morro de Santa Maria — com núcleos que atendem 60 adolescentes de 12 a 18 anos, sempre vinculados a associações comunitárias e equipamentos públicos.

Por meio de parcerias com a rede intersetorial de Garantia de Direitos da Criança e do Adolescente, a expectativa é impactar indiretamente até 4 mil pessoas. É a primeira edição do projeto em Santos, realizada via edital público 01/2024 do CMDCA, mas o Elos já mantém versão similar em Cubatão/SP há quatro anos, com jovens da Vila dos Pescadores.

Nesta semana, o projeto abriu uma nova frente com encontros voltados a adultos que também participam da conversa sobre formas de proporcionar uma juventude mais acolhedora e saudável. São rodas de conversa que devem se repetir a cada três meses.

Diretora de projetos e co fundadora do Instituto Elos, Natasha Gabriel explica que o Conexão Elos foi criado para democratizar o cuidado às crianças e adolescentes, promovendo construções que muitas vezes não estão acessíveis para famílias periféricas:

“A gente tem trabalhado com adolescentes vinculados a associações comunitárias e equipamentos públicos, com atividades em que reconhecemos o potencial dessas juventudes, trabalhamos para estreitar a relação com o território e mais do que isso, mostrar que esse adolescente da periferia é um sujeito de direitos e também pode conectar com esses valores a outros adolescentes e também transitar de forma segura pela cidade”, explica.  

Chefe do Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) do Morro da Nova Cintra, Thatiane Goghi celebra a oportunidade de trocar experiências com outros profissionais que também atuam pelo ECA na Baixada Santista. 

“Todo projeto que se dedica às juventudes é bem-vindo, porque muitas famílias não têm recursos internos para lidar com uma fase que nos desafia com tantas inquietações, e a gente que lida com o trabalho social também enfrenta essa dificuldade para ter o traquejo e a linguagem para melhorar o relacionamento com os adolescentes, principalmente nas periferias, em que elas estão expostas a tantas vulnerabilidades, em que o Estado, muitas vezes, não consegue dar conta”, destaca. 

Metodologia para regenerar relações em todas as idades 

Os encontros também envolvem especialistas em adolescência, como a educadora parental Natally Suzanne (Instituto Reeducando com Afeto) e a educadora Sheylli Caleffi, reconhecida pelo ativismo sobre a regulação das plataformas digitais. Ambas dialogam com a Metodologia Elos, inspirada em saberes indígenas e periféricos, que aposta em pertencimento, potencial e protagonismo como chaves para transformar comunidades.

Mariana Gauche, cofundadora e diretora de projetos de educação do Instituto Elos, destaca que a metodologia se aplica a todas as idades:

“Quando jovens desenvolvem autoconhecimento e respeito ao seu próprio processo, eles conseguem dizer não ao que não acrescenta. Isso é central para enfrentar situações de abuso e violência, que estão entre as maiores preocupações das famílias e da opinião pública.”

Além do Conexão Elos, a organização realiza, desde 1999, o programa internacional Guerreiros Sem Armas (GSA), que já formou mais de 700 participantes de 57 países, e sua versão jovem, o Geração GSA (14 a 17 anos), que em 2025 chegou à 4ª edição com cinco participantes estrangeiros, e ao todo já formou 75 jovens.

A partir de etapas voltadas ao potencial, ao pertencimento e ao protagonismo de cada indivíduo, a metodologia do Instituto Elos oferece perspectivas que podem ser aplicadas a diversas situações, o que explica por que, todo ano, o principal curso da organização – o Guerreiros Sem Armas, já atraiu mais de 600 participantes de todas as regiões do mundo, de todas as idades. Há também uma versão voltada para participantes de 14 a 17 anos: o Geração GSA, que em 2025 chegou à sua quarta edição, com a participação de cinco participantes estrangeiros. 

“Geração GSA tem recebido uma demanda extraordinária das famílias, porque os pais já perceberam que estamos oferecendo um espaço em que o afeto e a escuta são bússolas para formar pessoas que zelam pelo seu autoconhecimento.”, explica Mariana Gauche. “Quando temos juventudes que sabem respeitar o processo das coisas, inclusive de si próprios, eles vão saber dizer não ao que não acrescenta, o que ajuda muito a enfrentar situações de abuso e violência que estão na raiz das principais preocupações que temos visto na opinião pública e na família”, ela complementa.

SOBRE O INSTITUTO ELOS

Instituto Elos é uma organização santista referência mundial em Tecnologias Sociais e metodologias para formação de lideranças e transformação social. Alinhado com o Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) 11, contribui para tornar as cidades inclusivas, seguras, resilientes e sustentáveis. Com atuação de impacto desde 1999, teve sua metodologia disseminada em mais de 50 países, formou mais de 3 mil lideranças e alcançou mais de 500 mil pessoas em pouco mais de 990 comunidades no mundo. As formações unem teoria e prática por meio de cursos, jogos sociais e vivências. A organização atua para conectar e articular os diferentes setores da sociedade em torno de objetivos comuns de desenvolvimento social, garantia de direitos e  acesso à políticas públicas. Por seu trabalho, o Instituto Elos foi reconhecido como uma das 100 melhores ONGs do Brasil em cinco edições da premiação. E foi premiado pela Fundação Banco do Brasil pela tecnologia Jogo Oasis na categoria Política Pública.

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