Faltam poucos meses para o fim do ano: como reorganizar as finanças e evitar o sufoco em 2025?
Especialista em finanças, Resende Neto orienta como quitar dívidas, cortar desperdícios e planejar objetivos mesmo com pouco dinheiro e tempo curto
Com a aproximação dos últimos meses do ano, o cenário financeiro da maioria dos brasileiros ainda é preocupante. Segundo a Confederação Nacional do Comércio (CNC), mais de 78% das famílias estão endividadas em 2025, um número que se mantém elevado mesmo após ciclos de redução da taxa Selic. A inadimplência, que afeta 30,2% dos lares, reflete não apenas o custo de vida crescente, mas também a dificuldade generalizada de organizar as finanças pessoais em meio a um orçamento apertado. Diante disso, o segundo semestre se torna uma espécie de sprint final para quem quer fechar o ano no azul e iniciar 2025 com mais segurança.
Para o educador financeiro e especialista em finanças pessoais Resende Neto, é possível sim, mesmo nos últimos meses do ano, fazer ajustes financeiros que tragam resultados reais e evitar começar 2025 mergulhado em dívidas ou com o orçamento estourado pelas despesas de fim de ano, como festas, férias e impostos.
“O segundo semestre é como uma reta final: quanto antes a pessoa corrigir a rota, mais rápido vai colher os resultados. Não precisa esperar a virada do ano para começar a mudança”, afirma.
A recomendação de Resende é clara: tudo começa com um diagnóstico real da vida financeira, listando todas as receitas (mesmo as variáveis) e todas as despesas fixas e eventuais. O erro mais comum, segundo ele, é viver no automático, sem saber exatamente quanto se ganha ou quanto se gasta, o que acaba gerando desperdícios silenciosos e dívidas inevitáveis.
“Se você não sabe para onde está indo o seu dinheiro, qualquer aumento de salário ou de renda extra será inútil. O padrão de vida cresce junto, e a sensação de escassez continua a mesma. O maior vilão das finanças não é o salário baixo — é a falta de consciência”, aponta.
Depois do diagnóstico, a segunda etapa é cortar tudo aquilo que não gera valor real. Assinaturas que não são mais usadas, tarifas bancárias desnecessárias, planos de streaming duplicados, compras por conveniência ou impulsivas, delivery frequente, mercado sem lista: todos são exemplos de desperdícios invisíveis que, somados, comprometem boa parte da renda.
“Gasto é como cabelo e unha: precisa ser cortado com frequência. E cortar gasto não é viver pior — é direcionar seu dinheiro para o que realmente importa. Qualidade de vida é ter paz, não ansiedade por conta atrasada.”
O especialista também destaca a importância de definir metas concretas para os próximos seis meses. Em vez de promessas vagas como “quero guardar dinheiro”, o ideal é estipular valores e prazos claros. Por exemplo: reduzir uma dívida de R$ 10 mil para R$ 7 mil até dezembro, ou acumular uma reserva de R$ 2 mil em seis meses. A clareza dos números é o que transforma o desejo em ação.
Dívidas, micro-reserva e controle diário: os três pilares da virada financeira
Para quem está endividado, o caminho não começa com investimento, começa com a renegociação e a reorganização das dívidas mais caras, especialmente cartão de crédito e cheque especial. “A prioridade é estancar o sangramento. Não adianta querer investir recebendo 0,7% ao mês enquanto paga 10% de juros no rotativo. Isso é como secar o chão sem fechar o registro do vazamento.”
Mesmo assim, Resende recomenda que a pessoa inicie, em paralelo, o hábito de investir um pequeno valor, como 1% da renda, não pelo retorno financeiro imediato, mas para criar disciplina e educação financeira. Essa “micro-reserva” ajuda a evitar que imprevistos futuros gerem novas dívidas.
“O ideal é ir quitando as dívidas da mais cara para a mais barata, mas também começar a construir uma reserva, mesmo que pequena. Às vezes, uma reserva de R$ 500 já evita um novo rombo. E esse valor deve ser proporcional à realidade de cada um.”
A estrutura ideal, segundo ele, é baseada em três pilares: reorganizar as dívidas, montar uma micro-reserva de emergência e implementar um método de controle financeiro diário. Esse controle pode ser feito via caderno, planilha ou aplicativo, mas a preferência do especialista é por soluções digitais simples, como o EnriclassApp, que permite o lançamento de despesas direto pelo WhatsApp.
“Não existe método perfeito, existe o método que você consegue manter. Mas com a tecnologia atual, usar um app que automatiza esse processo, atualiza relatórios e classifica os gastos com inteligência artificial facilita demais a vida e evita que a pessoa desista.”
Além da organização dos gastos, Resende reforça a importância de estabelecer limites para o padrão de vida, o que inclui moradia, transporte, alimentação e saúde. A recomendação é que essas categorias não ultrapassem 55% da renda líquida. Os demais 45% devem ser divididos entre: 20% para investimentos, 10% para lazer consciente, 10% para doações ou dízimos (quando aplicável) e 5% para desenvolvimento pessoal, como cursos e livros.
“Se a gente aprendesse desde o primeiro salário a viver com no máximo 55% da nossa renda, a realidade financeira das famílias seria outra. A maioria dos problemas vem do descontrole na base, não da falta de renda.”
Do sonho à meta: como planejar o futuro mesmo com pouco dinheiro
Mesmo quem vive com orçamento justo pode — e deve — planejar o futuro. Resende Neto afirma que o segredo está em transformar sonhos abstratos em metas tangíveis, com valor, prazo e contribuição mensal definidos. Viagem, carro novo, curso, reforma da casa — qualquer sonho só se realiza quando se torna parte do planejamento.
“Viajar é sonho. Mas quando você diz: ‘quero ir para tal lugar, em tal mês, vou gastar tanto e guardar X por mês’, isso vira meta. A diferença entre quem realiza e quem adia eternamente está na clareza do plano.”
Ele recomenda automatizar o processo com transferências programadas para contas específicas. Isso evita o risco de usar o dinheiro antes da hora. Além disso, recomenda usar investimentos adequados ao prazo: alta liquidez para reserva de emergência, e prazos mais longos para metas de 1 a 3 anos ou mais.
Para quem ainda não consegue poupar valores altos, a orientação é começar com pouco, mas não deixar de começar. “Guarde 1%. Quando estiver fácil, passe para 2%. Depois 3%. Mas comece. Guardar dinheiro não é sobre valor, é sobre comportamento”, reforça.
Segundo o IBGE, o rendimento médio real do trabalhador brasileiro caiu 1,4% no segundo trimestre de 2025. Em paralelo, a taxa Selic segue em 10,25% ao ano, o que torna o crédito mais caro — especialmente o rotativo do cartão de crédito, que já ultrapassa 400% ao ano em algumas instituições, segundo dados do Banco Central.
Nesse contexto, o alerta de Resende Neto ganha ainda mais força: organização financeira é questão de sobrevivência, não mais de opção.
“Planejar é dar um endereço claro para cada real que entra na sua conta antes que ele desapareça. Não é sobre controlar o dinheiro, é sobre retomar o controle da sua vida.”
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