Opinião

Beleza Filtrada: Como as Redes Sociais Estão Redefinindo Rostos e Minando Autoestima

Especialista em harmonização orofacial alerta para os efeitos nocivos da estética digitalizada: filtros irreais e padrões repetidos estão influenciando adolescentes a buscar procedimentos que distorcem a identidade facial e emocional.

“Filtro é estética, não é identidade”. Essa é a frase que a cirurgiã-dentista Dra. Erika Kugler mais repete no consultório. E não por acaso: um estudo da Royal Society for Public Health aponta o Instagram como a rede social mais prejudicial à autoestima corporal entre os jovens: um estudo da Royal Society for Public Health aponta o Instagram como a rede social mais prejudicial à autoestima corporal entre os jovens. A era da beleza digitalizada está moldando mais do que selfies — está distorcendo a percepção da própria imagem e impactando diretamente a saúde emocional.

Com base em sua prática clínica, Dra. Erika observa um fenômeno crescente: adolescentes e jovens adultos que chegam ao consultório já insatisfeitos com seus traços naturais munidos de fotos filtradas como referência. “Hoje, muitos pacientes já vêm com um modelo de rosto salvo no celular. A comparação virou gatilho — nem sempre saudável”, afirma.

Quando a beleza vira filtro

A era dos filtros faciais e das tendências digitais transformou o espelho em um campo de comparação. “Grande parte das pacientes chega ao consultório com uma referência visual baseada em filtros ou influenciadores — uma estética padronizada e digitalizada”, relata Dra. Erika.

Entre os procedimentos mais requisitados estão rinomodelação, preenchimento labial, contorno de mandíbula, “fox eyes” (elevação dos olhos) e skinboosters (hidratação profunda da pele) — técnicas que visam criar uma beleza altamente fotogênica, mas que muitas vezes apagam a identidade única de cada rosto.
“Muitos adolescentes me dizem que preferem a versão filtrada do próprio rosto. A aparência natural passa a ser vista como um defeito.”

Filtro não é rosto — e nem deveria ser

A especialista aponta que a padronização extrema — com peles sem textura, narizes afilados, bocas infladas e olhos alongados — empobrece a diversidade e aprofunda inseguranças. “O algoritmo criou um padrão único, exageradamente simétrico e eternamente jovem, que não representa a beleza real — que é feita de movimento, textura e autenticidade.”

Mais do que aplicar técnicas estéticas, Dra. Erika enxerga em sua profissão um papel educativo e ético: “Meu papel não é copiar um filtro, mas orientar. A harmonização precisa respeitar os limites do possível e do saudável. Quando percebo uma demanda baseada em distorção de autoimagem, recuso o procedimento.”

Entre o autocuidado e a pressão estética

Existe uma linha delicada entre buscar bem-estar e ceder à pressão. “O autocuidado nasce de dentro, com propósito. Já a pressão estética vem do medo: de envelhecer, de não ser suficiente, de não caber num padrão imposto. É aí que o profissional precisa ser sensível e responsável.”

Para ela, o consultório não é apenas um espaço de procedimentos, mas de acolhimento emocional. “Começo pela escuta ativa. Quando percebo sinais de sofrimento, indico psicoterapia. Estética e saúde mental precisam caminhar juntas.”

Naturalidade, identidade e o futuro da estética consciente

Segundo Dra. Erika, um novo olhar sobre a beleza começa a emergir. “Estamos vendo um movimento crescente que valoriza rostos reais, com história, expressão e personalidade. A beleza está na imperfeição — no que é próprio de cada um.”

Ela reforça que profissionais da saúde estética, mídia e influenciadores precisam atuar de forma ética e educativa. “Mostrar bastidores reais, respeitar limites, falar sobre saúde mental — tudo isso é urgente. Estética tem que voltar a ser sobre liberdade — não sobre comparação.”

Sobre a Dra. Erika Kugler

Dra. Erika Kugler é cirurgiã-dentista com especialização em harmonização orofacial. Atua com foco em estética ética, natural e personalizada, promovendo resultados que respeitam a individualidade de cada paciente. Defensora de uma abordagem integrada entre saúde emocional e aparência, ela acredita na beleza que acolhe — não que impõe.

Redes Sociais
@dra.erikakugler

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